27 de jul. de 2020

Sobre o conceito de beleza e cultura

Quem me acompanha de pertinho sabe que tenho feito maior esforço para ter uma alimentação saudável e exercícios físicos regulares. Corro três vezes na semana e praticamente não como mais "besteiras", exceto meu pãozinho que as vezes não consigo dizer não pra ele.  Tenho feito isso pela minha saúde.
Aqui não tem hospitais com aquela infraestrutura e eu não quero voltar pra casa doente. Mas é óbvio que emagrecer também é meu objetivo, e já consegui eliminar 2kg. Já é alguma coisa. Na nossa cultura brasileira, mulher bonita é mulher magra e infelizmente acabo trazendo isso pro meu subconsciente, apesar de ser grata pelo meu corpo e já ter aprendido a me aceitar bem com isso.

O fato é que eu mudei de cultura e aqui o contrário que é bonito. Para uma mulher ser linda em Moçambique ela deve ser gordinha, quadril largo, pernas grossas, aliás, tudo grande. Quase morri quando cheguei na igreja e uma mulher falou: “Como você está ficando mais bonita, está a engordar...” ah gente, imagina uma brasileira ouvindo isso? E o jovem ao lado dela ainda confirmou: “Sim... Já está aparecendo mais bochechas. ” Na hora, mudei meu semblante, mas quando olhei pra eles super sorridentes olhando pra mim lembrei: Ei, você mudou de cultura. Agradeci o elogio e prossegui arrasada. Certa de que meu esforço não está adiantando. E pra piorar, esses dias coloquei uma foto no WhatsApp e uma outra jovem moçambicana falou: “Como você está fofa, está linda. ” Hahaha, ah misericórdia.

O que eu quero dizer com isso tudo é que...

Beleza está relacionado diretamente com a cultura, com a forma em que você foi criada e como você foi doutrinada. Isso mesmo, se você cresceu vendo que belo é uma mulher branca de cabelo liso, olhos claros e magra, você nunca conseguirá ver outros tipos de beleza. E o que eu tô achando lindo aqui é que o conceito de beleza deles é completamente diferente do que eu aprendi. E que bom. E viva as diferenças. É tão bom você ser livre com seu cabelo, cor e corpo.

Por isso meninas esse recado é principalmente para vocês: Se você está reclamando por estar gordinha, ou o cabelo tá crespo e a cor não te agrada etc., mude de cultura, mude sua mente, com certeza você é linda, perfeita e fofa... só não te ensinaram isso. Colocaram ou impuseram outra cultura pra você. Pense nisso e se ame do jeito que você é. Ah, mais não se esqueça, se alimente bem, beba muita água e faça exercícios físicos. Isso é bom pra saúde, é bom pra você.

Beijos, FOFA. (ELOGIO MOÇAMBICANO)
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20 de jul. de 2020

Carta aos pais e mães

“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar. ” Nelson Mandela
Olá amigo e amiga, se você está recebendo essa cartinha é por conta de 3 fatores:
1. Você é muito nosso amigo e uma pessoa que amamos 
2. Você é mãe, pai ou responsável
3. Você é branco ou não negro

Vem cá pra gente conversar, nos últimos dias todos nós assistimos estarrecidos a brutalidade de policias com pessoas negras. Primeiro foi o João Pedro, um adolescente de 14 anos que foi morto pela polícia enquanto estava brincando em sua casa no Rio de Janeiro. Depois o George Floyd, um homem inocente que foi asfixiado pela polícia, enquanto isso ainda pedia socorro. E para piorar e “fechar a semana” a gente viu um menininho lindo de 5 anos, deixando sozinho em um elevador, a procura de sua mãe, ele acabou caindo do prédio de 11 andares, por negligência da patroa da sua mãe que deveria estar cuidando dele. Adivinha a cor do menino? Exatamente. Preto.

O que esses fatos têm a ver com vocês, com seus filhos e com a forma que você cria eles? Tudo a ver. Já sabemos que o racismo no Brasil não é algo pessoal, ou individual, é algo estrutural e institucionalizado e permeia todas as áreas da nossa vida. Para piorar, o racismo no Brasil é negado dia após dia. E o que acontece com uma doença que a gente nega, fingindo não existir? Isso mesmo. Ela nunca é curada. Assim como o racismo brasileiro. Dentro desse contexto, eu quero com muito amor e carinho, sim, amor e carinho falar sobre o racismo. Porque sempre que falamos desse assunto pensam que estamos com raiva e queremos vingança, mas essa é outra pauta. Eu quero deixar algumas orientações com vocês para tratar desse assunto com seu filho de forma que ele cresça entendendo o que é racismo, que ele existe e que devemos erradica-lo de nossas vidas. E por quê precisamos falar sobre esse assunto “chato e ruim” com nossas crianças? Porque faz parte da educação, assim como falamos de abusos e outros assuntos penosos.

De 0 a 1 ano: No nascimento, os bebês olham igualmente para os rostos de todas as raças e etnias. Aos 3 meses, por exemplo, os bebês olham mais para os rostos que correspondem à raça e etnia de seus cuidadores.

De 2 a 5 anos: A maioria das crianças usam a sua própria aparência para escolher colegas de brincadeira.

De 4 a 5 anos: Expressões de preconceito racial costumam atingir as crianças aos 4 a 5 anos.

5 anos: No Jardim de infância, as crianças mostram muitas das mesmas atitudes raciais mantidas por adultos em nossa cultura. Eles já aprenderam a associar alguns grupos mais altos do que outros.

E é esse tópico que quero abordar com vocês. Com 5 anos, crianças já conseguem fazer uma análise do meio em que vive. Então se seu filho é branco ou preto de pele clara, e ele só convive com crianças brancas, e a empregada de casa é negra, se na escola dele só tem crianças brancas, professores brancos, diretores brancos e os faxineiros são negros, se os programas que ele assiste, os livros, e a bíblia infantil, os personagens principais, príncipes, princesas, anjos e reis são sempre brancos, e o “mal”, o diabo, o monstro o pecado é preto. O que essa criança vai aprender? O que ela vai entender? Ela vai associar, o que muitos de nós já associamos, que tudo o que é negro ou preto, é ruim, é mal e só serve para me servir, para estar “abaixo de mim”.

Nunca esqueci um dia que eu estava em uma festinha de criança do meu primo, que é branco, estuda em escola particular e logo todas as crianças, TODAS as crianças da festa eram brancas. Eu estava sentada com uma amiga, que também é negra, conversando. Em um dado momento, uma criança que deveria ter seus 6 aninhos atravessou a sala, passou por todas as pessoas brancas e parou ao lada da minha amiga e pediu: Tia, você é a babá de fulano? Pega água pra mim? Uau... como ela, com apenas 6 aninhos, achou que minha amiga, que também tinha sido convidada da festa estava ali para servir? Por que ela não pediu ou perguntou se outra pessoa branca era babá? Vocês estão percebendo? Como nossos filhos vão crescendo em meio aos preconceitos raciais?

-Tá bom Nai, já entendi. Como eu faço então para minimizar esses impactos se eu sou branca e minha família é toda branca? Vamos lá:

1.      Seus filhos precisam ter relações com negros, que não sejam de subalternidade

Quando a criança só tem acesso a relações com negros onde ela, hierarquicamente se assim podemos dizer, tem superioridade, o laço, por mais genuíno que possa ser, é construído com base em uma posição de superioridade. Quando esse relacionamento é feito em um cenário que ambas estão na mesma posição hierárquica a ideia de superioridade tende a se desfazer.

2.      Contar a verdadeira história da escravidão

 Uma das formas mais eficazes de submissão é negar a história de luta do povo oprimido. E é isso que os currículos escolares fazem quando o assunto é a história da escravização negra. Vários abolicionistas negros como Luiz gama e Maria Firmina, se quer são mencionados nas escolas. Revoltas como dos Malês são maquiadas para tirar o protagonismo negro, a importância dos quilombos, as heroínas negras e etc.

3.      Consumir conteúdo negro

 Quando for assistir um desenho ou dar um livro infantil dê preferência aos que tenham negros como protagonistas. Todos os meios de massa e todos os produtos da indústria cultural tem um impacto gigantesco no imaginário infantil. Ele pode criar ou reforçar imagens e preferências. A cultura da mídia fornece modelos daquilo que significa ser homem ou mulher bem sucedido, poderoso ou impotente, também fornece o material com que muitas pessoas constroem seu senso de classe, de etnia e raça.

Esses três tópicos são somente algumas dicas entre várias outras que você pode incluir na educação do seu filho para que ele não cresça racista. Esses dias, meu filho falou que queria ter o cabelo igual do amiguinho dele que é liso. Eu tive que inventar uma história, que ficou tão legal que quero publicar, para ensinar a ele como Deus foi criativo e deu uma cor, um cabelo e um corpo diferente para cada criança. Agora ele está feliz da vida com a cor dele e o cabelo que tem, pois ele entendeu que a diversidade é uma riqueza. Talvez amigos, você precisará usar a criatividade para que seu filho entenda que ninguém é inferior a ninguém. Que não existe mais bonito e mais feio, que não há cabelo bom ou ruim e que cada um de nós temos nossas qualidades e pontos que precisamos melhorar.

E por fim o principal, a mudança precisará começar em você. Olhe para dentro de si mesmo e observe se você “inconscientemente” está reproduzindo falas racistas, está tendo comportamentos que expressam o racismo. Sim, sei que é incômodo, mas ainda precisamos aceitar e mudar. Se não fizermos isso, continuaremos com esse mundo perverso e mal que temos e não é o que queremos.

A maioria dessas dicas foram tiradas do instagram @criandocriancaspretas da @deh_bastos que já tem mais de 73 mil seguidores e conta inclusive com o apoio de artistas brancos que tem crianças negras e conheceram de perto o racismo, que até então eles achavam que não existia como Samara Felippo, Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso e artistas também negros que ajudam na educação antirracista como Lázaro Ramos e Taís Araújo.

Outros livros que podem ajudar sua busca por uma educação melhor:
1.      Pequeno manual antirracista por Djamila Ribeiro Filosofa, esse livro pequeno e simples já está sendo um dos mais vendidos do Brasil.
2.      Sulwe de Lupita Nyong’o
3.      Mandela: O africano de todas as cores, por Alain Serres
4.      Amoras, de Emicida
5.      Flávia e o bolo de chocolate, de Miriam Leitão
6.      Tudo bem ser diferente de Todd Parr

Que Deus nos dê sabedoria nessa caminhada, que possamos deixar filhos melhores para esse mundo e que a Justiça, paz e amor reine em nossas famílias e em nossa sociedade.

Obrigada pela atenção, e aguardo seu retorno para conversarmos mais sobre.

Grande beijo, por Nai @naivnm
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#BlogVidaNaMissão

13 de jul. de 2020

Os livramentos que Deus nos dá são incomensuráveis

Você sabe o que significa esse palavrão do título? Significa que não se pode medir, sem limite, sem tamanho, não se pode ser comparado, imenso, incontável. Entenda que assim são os livramentos de Deus por nós. Seu cuidado por nós. Assim Deus mostra sempre a nós quem Ele é.


Em nossa última viagem de emergência eu e meu amigo missionário Roger Yoshimura, na caça por um dentista, cruzamos estados, chamados províncias ou municípios aqui em Moçambique, fomos de Lichinga para Nampula. Um viagem de carro de 12 horas e cerca de 700 kilômetros de distância, dependendo do caminho que se escolhe e como a situação das estradas estão e se é tempo de chuva ou não.
Só que aqui não são 12 horas de viagem em estradas pavimentadinhas, sinalizadinhas e bonitinhas. São estradas de chão batido, terra, areia, barro e muita poeira. E em outro trecho barro com pedras com força, crateras, buracos e afins. Resumindo, não se pode correr, tem ir só no panande panande, tipo 20km/h tá bom e olhe lá. Apesar de o governo estar trabalhando já na pavimentação, muitas partes da estrada tinham homens e máquinas trabalhando. Muito bom mesmo. Dizem que já foi muito pior em outros tempos.

Com isso, já pode esperar que você vai ter um pneu furado, pode ter certeza. Mas dessa vez aprouve ao Senhor, em sua infinita bondade, graça e misericórdia nos dar esse livramento. Fomos e voltamos e não aconteceu nada. Nenhum pneu furado, nada.

E quando chegamos aqui. Estacionei o carro em casa. Durmo e acordo e o pneu está um pouco baixo. Vou lá no borracheiro dar um gás, volto pra casa. Durmo e acordo de novo. Quando amanhece o dia um dos pneus estava totalmente vazio e com certeza furado.  

Que livramento! Deus é fiel! Imagina ficar parado com um pneu furado, nessas estradas desertas que nem sempre passam carros e que não conhecemos. Na verdade era a primeira vez que viajava nessa estrada. Não se tem borracheiro, postos de combustível, na pegada AM/PM, loja de conveniência e tal... Aqui é outra realidade meus amigos.

Quando cheguei no borracheiro ontem, adivinha qual era o problema do pneu? Um vazamento causado por um espinho. Um espinho? Como assim? Parece até piada. Esse Deus com certeza é bem humorado e sabe nos fazer dar gargalhadas. Mesmo que as vezes sejam gargalhadas de nervoso. O que é um pequeno espinho comparado ao caminho que de ida e volta somados são cerca de 24 horas.

Cada vez mais Deus nos mostra que Ele sempre estar a cuidar de nós. Dos detalhes mais pequenos até os que julgamos maiores ou importantes. Resta a nós sermos gratos a Ele todos os dias pelos livramentos incomensuráveis que Ele tem nos dado e por tudo que Ele tem realizado e feito por nós.

Mais uma vez entendemos que Deus é bom em todo lugar e tempo. Ele nos ama. Sabe cuidar de nós.

Mesmo em tempos de Pandemia e dor, pense hoje, essa semana qual foi o livramento que Deus te deu. Seja grato a Ele. Confie, espere, descanse nesse Deus. Fale com Ele, tenha e nutra esse relacionamento com Ele todos os dias.

Fique na paz.

Eli Costa
@elicostavnm
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6 de jul. de 2020

Por um mundo com mais Elises & Jorges

Esses dias cheguei aqui na sala e meu esposo estava com os olhos cheios de lágrimas e o celular na mão, eu desesperada perguntei: Amor o que aconteceu? E ele com um sorriso me perguntou: Lembra de Nei, um ex-morador em situação de rua, ele sempre estava na praça quando nós íamos no café da manhã junto com Elis e Jorge? Eu respondi: penso que sim amor, mas prossiga, o que houve com ele? Então, ele saiu da rua, conseguiu um emprego, alugou uma casinha e agora me enviou uma foto dizendo que está fazendo curso de LIBRAS e tocando violão e agora vi no meu WhatsApp e ele me mandou as fotos. Naquele momento choramos juntos.

Nessa mesma linha de raciocínio temos pessoas como Bia Doria, esposa do governador de São Paulo, que alegou que não era correto dar comida ou roupa para pessoas em situação de rua, porque essas pessoas estão lá porque querem. Na verdade pessoas assim nunca terão essa sensação, nunca farão parte da história da vida de uma pessoa que conseguiu dar a volta por cima, porque alguém realmente se importou com elas.

Pessoas desse tipo, que vivem em sua bolha existencial, em seu palácio, em seus carros com vidros fechados, que não tem amor no coração, que acha que pessoas diferentes delas têm que continuar onde estão e que reproduzem essas narrativas preconceituosas e excludentes, nunca saberão o valor que é amar gente, o valor que é repartir, compartilhar, amar, ter empatia, servir... essas palavras não estão no vocabulário de pessoas como Bia Doria, e que infelizmente é a maioria que governa o nosso país.

Há cerca de 4 anos, o projeto Café Na Praça, acontece em Macaé na direção de Elis e Jorge. Um casal que tem o coração maior que o corpo.  Nesse tempo, várias pessoas, muitas mesmo, saíram da situação de rua, se livraram da dependência química, conseguiram um emprego, voltaram para suas famílias e cidades de origem. Tudo porque um casal que não pensava como Bia Doria, seguiu os passos de Jesus e todos os dias às 7h da manhã tomavam café na rua. Pessoas que ninguém chegava perto, que ninguém amava, que ninguém queria. Esse casal, ama, cuida, todos os dias, e hoje o projeto já é referência na cidade de Macaé e já conta com ajuda de outras pessoas e instituições e oferecendo não só café, mas almoço, roupas, yoga, ajuda psicológica, espiritual e física com a presença de médicos e pessoas responsáveis em políticas sobre drogas.

A gente tem muitos Dórias por aí, principalmente na direção do nosso estado brasileiro. Mas graças a Deus nós temos vários Elis & Jorges. Várias pessoas que sabem que vale a pena cuidar dessas pessoas em situação de rua e que COM CERTEZA não estão ali porque querem.

Com esse pequeno texto eu convido você a sair desse pensamento elitista, escravocrata e pecaminoso e partir para seguir os passos de Jesus, acompanhar os Elis & Jorges que existem espalhados em nosso país e oferecer o que você é e o que você tem. Saia da sua zona de conforto, ouça essas pessoas, olhe para elas, ore por elas e quando tiver liberado abrace elas também e você saberá o porquê elas estão ali e o quanto elas desejam sair. 

Obrigada meu Deus, obrigada mesmo por Elis & Jorge e a nossa oração é que o Senhor continue levantando mais deles em todo o nosso país e mundo. Pessoas assim fazem a diferença onde estão, transforma a realidade local, muda vidas e traz dias melhores para sempre.

Nai
@naivnm
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Projeto: Café na praça
Responsáveis: Elis e Jorge Facebook: Elis de Jorge
Local: Praça Veríssimo de Melo cidade de Macaé - Rio de Janeiro - Brasil
Quando: Todos os dias ás 7h da manhã e em horário de almoço também.