27 de out. de 2020

Homens, violência gera violência

Nesse exato momento estamos como que paralisados e perplexos com tamanha violência masculina que temos presenciado aqui.


Talvez e com certeza não imaginávamos que seria assim. Nosso imaginário de África não existe. Pensávamos que tudo era lindo, maravilhoso, animais e safáris por todos os lados, natureza, matas, tudo de bom e mais um pouco. Romantizamos ou idealizamos uma outra África, sem defeitos ou efeitos da colonização e afins.

Primeira questão é que existem várias Áfricas, não apenas uma, são várias realidades, culturas, línguas e religiões distintas. E a África é o terceiro continente mais extenso do planeta com cerca de 30 milhões de quilômetros quadrados, cobrindo 20,3% da área total da terra firme do planeta. É o segundo continente mais populoso da Terra com cerca de um bilhão de pessoas, representando cerca de um sétimo da população mundial, e 54 países independentes. Falo da realidade que vivemos, Moçambique, um dos 10 mais pobres do mundo.

Estávamos em casa ontem por volta das 19h quando ouvimos gritos, bracejos, alguém mesmo a barafustar e não era longe de nós. Saí de casa e espreitei pela porta, quando percebemos que era no vizinho do lado. Uma família que conhecemos faz pouco tempo, um pai e uma mãe com três crianças pequenas, idades talvez entre 2 e 10. Esse desespero e gritaria estava a durar mais de 15 minutos. Então pedi um amigo para que fosse verificar o que era, talvez pudesse ajudar em alguma coisa, não sei. Como somos brasileiros, aqui estrangeiros nem sempre é sábio nós envolver em tudo que nos acontece.

Depois de mais uns 15 minutos ele voltou relatando que era o marido que estava a espancar a esposa e os filhos. Ela apenas fez um questionamento a ele e essa foi a reação dele. Espancamento, feriu-a e expulsou a própria família de casa. Como assim? Que tipo de relacionamento estamos vivendo nas nossas casas? Que tipo de exemplo temos dado aos nossos filhos e pessoas mais próximas?

Homens machistas, arrogantes, violentos, inescrupulosos, sem amor, odiosos, tóxicos, doentes, maus, horrendos, gananciosos, profanos, vazios, animais irracionais, inimigos de si e de Deus. Parece até mesmo que estou descrevendo e lembrando a fala do Profeta Paulo ao jovem líder Timóteo no ano de 64-65 d.C. falando sobre os tempos difíceis que chegariam. Infelizmente cabe muito bem a nossa realidade de hoje.

Exatamente agora quando escrevo, no dia seguinte ao fato ocorrido, está acontecendo tudo de novo, a noite seguinte tudo se repete. Tu acredita?

Corremos e apenas colocamos nosso filho pra dentro, disfarçamos, liguei uma música alta, fomos colorir e voltei a escrever. Mas como relaxar e viver uma vida colorida se a realidade é sem cor, sem perdão e sem amor?

Pior foi ouvir de outros aqui como resolver essa situação, ou como resolvem mesmo. Chamam a polícia ou também os irmãos dessa esposa, eles dão uma surra nesse marido e aí ele "amansa" e tudo fica "bem". Como assim? Vamos resolver a violência com mais violência? Até quando vamos agir dessa forma desumana? O que aconteceu com os ensinamentos do Mestre Jesus de amar a teu próximo como a ti mesmo?

Lorena Chaves em uma de suas canções nos questiona: "como acostumar com a dor e a miséria sem se comover? Aonde está o seu amor?"

Carole Patman (1988), apontou que o patriarcado é um sistema de poder parecido com o escravismo.

Paulina Chiziane, uma das maiores escritoras moçambicanas diz: "Cerramos as nossas bocas e as nossas almas. Por acaso temos direito à palavra? E por mais que a tivéssemos, de que valeria? Voz de mulher serve para embalar as crianças ao anoitecer. Palavra de mulher não merece crédito. Aqui no sul, os jovens iniciados aprendem a lição: confiar numa mulher é vender a tua alma. Mulher tem língua comprida, de serpente. Mulher deve ouvir, cumprir, obedecer."

Parece até que estamos vivendo na série da Netflix "Bom dia Verônica." Na pele de Janete. Que loucura! O que fazer no meio dessa confusão?

Como homens negros mudemos essa realidade, mudemos esse sistema patriarcal opressor ultrapassado. Tenhamos coragem e força de quebrar o ciclo da violência contra a mulher e contra nós mesmos.

O que vamos fazer com esses casos tão próximos a nós e tão comuns aqui em Moçambique? Estamos procurando e pesquisando a melhor forma de tratar esses casos. Se tens dicas e informações podem nos dizer. Nossa missão e propósito é de alguma forma tentar mudar ou fazer parte da mudança na vida dessas mulheres, crianças , homens e famílias.

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@elicostavnm

4 comentários:

  1. Respostas
    1. Verdade, mas estamos aqui e juntos para promover essa mudança na sociedade.

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  2. Infelizmente essa é a nossa realidade, mulher só serve para fabricar filhos e satisfazer apetite sexual do marido.

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    1. Infelizmente querido leitor, mas vamos lutar e encontrar caminhos para mudar essa realidade juntos.

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