27 de out. de 2018

Tempos sombrios

Eu nunca pensei que chegaria um tempo em que eu precisaria explicar para alguém que amar era melhor do que armar-se. Que o amor deve vencer o ódio.

Eu nunca pensei que chegaria um tempo em que eu precisaria explicar para alguém que bandido bom não é bandido morto, bandido bom é bandido restaurado e reinserido na sociedade.

Eu nunca pensei que chegaria um tempo em que eu precisaria explicar para alguém que a escravidão no Brasil existiu SIM, e que por isso nós temos uma dívida impagável com a sociedade negra.

Eu nunca pensei que chegaria um tempo em que eu precisaria explicar para alguém que não deveríamos aceitar um cara que afirma que o filho dele nunca casaria com uma negra porque ele foi bem educado.

Eu nunca pensei que chegaria um tempo em que eu precisaria explicar para alguém que mesmo que não façamos parte da comunidade LGBTI, eles precisam viver, nós somos o país que mais mata essa comunidade.

Eu nunca pensei que chegaria um tempo em que eu precisaria explicar para alguém que mesmo que não sejamos Índios eles têm o direito de ter as terras deles demarcadas.

Eu nunca pensei que chegaria um tempo em que eu precisaria explicar para alguém que os quilombolas não podem ser comparados a animais, eles são pessoas como nós.

Eu nunca pensei que chegaria um tempo em que eu precisaria explicar para alguém que mulher tem os mesmos direitos dos homens e que igualdade de gênero é algo tão óbvio que nem precisava ser falado.

Eu nunca pensei que chegaria um tempo em que eu precisaria explicar para alguém porquê os cantores e “pastores” gospel estavam se unindo contra o “kit gay”, que nunca existiu mas eram incapazes de se unir contra a miséria, a desigualdade social, o feminicídio, o racismo e etc...

Eu nunca pensei que chegaria um tempo em que eu precisaria explicar para alguém que não devemos querer um candidato que fale em nome de Deus, mas sim que governe para todos. E que o estado é LAICO.

Eu nunca pensei que chegaria um tempo em que eu precisaria explicar para alguém que o Brasil não vai virar uma Venezuela mas pode virar Auschwitz.

Eu nunca pensei que chegaria um tempo em que eu precisaria explicar para alguém que não podíamos ficar do mesmo lado da Ku Klux Klan, um dos maiores movimentos dos EUA que mais matou negros na história, e muito menos de Ustra ,único brasileiro declarado pela Justiça torturador na ditadura.

Eu nunca pensei que chegaria um tempo em que eu precisaria explicar para alguém que era melhor votar em um candidato que ao ser ministro da educação do país criou 365 Institutos Federais, implantou o PROUNI, abriu várias universidades federais pelo país, investiu na ciência e pesquisa, em detrimento a um deputado que ficou 28 anos no poder e encaminhou apenas 1 projeto de lei sobre educação que nem foi aprovado.

Eu nunca pensei que chegaria um tempo em que eu precisaria explicar para alguém que construir universidades era melhor do que construir presídios e que direitos humanos não é coisa de “esquerda”. Os direitos humanos são direitos inerentes a todos os seres humanos, independentemente de raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra condição.

Eu nunca pensei que chegaria um tempo em que eu precisaria explicar para alguém que não podíamos aceitar tudo isso, por estar com raiva e vingança de um partido, cuja a informação vem da mídia comprada e pelo WhatsApp. Se não queremos votar em partido político por conta de problemas com corrupção, vamos ser sinceros aqui? Então não votaríamos em nenhum, mas dizer que PSL é limpo, não dá. E eu também não preciso colocar a tabela aqui mostrando a porcentagem de corrupção de cada partido brasileiro, né?

Eu sinceramente pensei que isso seria suficiente para nos fazer entender que o que está em jogo aqui não é direita versus esquerda, não é Kit Gay versus família brasileira, O QUE ESTÁ EM JOGO SÃO NOSSOS DIREITOS, NOSSA DEMORACRACIA, NOSSA HUMANIDADE.

Que nesse domingo, você pense em todas essas questões, esqueça um pouco as fake News e vídeos, reveja as frases postadas aqui releia as propostas de cada um e faça sua escolha. Não seja nulo nem branco, lembre-se:

"Não somos amados por sermos bons. Somos bons porque somos amados."

"Se você é neutro em situações de injustiça, você escolhe o lado do opressor." Desmond Tutu.

Eu já escolhi o amor, e você qual vai escolher?

Ana, mulher, negra, cristã, mãe, esposa, estudante de escola pública a vida toda, Pedagoga pela UENF (Universidade Estadual do Norte Fluminense e  Licenciada em Geografia pelo IFF (instituto Federal Fluminense e aluna especial do Mestrado em Políticas Sociais da UENF)

26 de out. de 2018

Que cabelo é esse???

Oi gente tudo bem? Quanto tempo não escrevo, né? É porque ter a vida na missão não é fácil. Eu acabei de sair do cinema e assistimos o filme baseado em compositores, e se é uma coisa que aprendi é que assim que tivermos uma ideia precisamos escrever na hora porque senão ela se vai.
Então, eu gostaria de compartilhar o que vivenciei hoje. Pela manhã fiquei sabendo que teria o lançamento de um livro chamado: Que cabelo é esse, Bela? Fiquei enlouquecida! Aqui, em Macaé um evento desse com o livro que deve contar a minha história rs... com certeza tenho que ver de perto. Fomos então ao lançamento, conhecemos a autora Simone Mota, conversamos um pouco sobre a temática e fiz questão de comprar o livro, afinal ouvi a vida toda essa pergunta: Que cabelo é esse, Ana?

Ok, vamos pegar mais leve, eu nem sempre ouvia essa frase porque meu cabelo sempre estava muito bem trançado e penteado, sempre arrumado e nunca bagunçado. Na passagem da infância para adolescência nos mudamos de Salvador Bahia para Macaé Rio de Janeiro e aí a crise aumentou, não queria ir para escola com aquelas trancinhas, que minha mãe fazia com muito amor, eu ouvia de tudo: Filha de bob Marley, medusa, rastafári, imagina, que menina de 12 anos queria conviver com esse bullying? (e ainda tem candidato à presidência que diz que isso é palhaçada) mas não vamos falar sobre isso..rs

Mesmo com os pais maravilhosos que tenho que faziam de tudo para inculcar na minha cabeça que eu era linda e minhas trancinhas mais ainda, não adiantou.  A pressão da escola, mídia e igreja era muito mais forte, e assim depois de muita insistência, minha mãe conseguiu um dinheirinho e alisou meu cabelo, agora sim eu podia ser aceita e ter o cabelo pra baixo, domado, exatamente como deveria ser, afinal quem achava cabelo “pra cima” bonito?

Mas o tempo passou e mesmo que eu não ouvisse que Cabelo é esse? Eu via nos olhares das pessoas fazendo essa pergunta, porque mesmo ele pra baixo, arrumado e domado ele nunca estava com as pessoas achavam que deveria estar, como a mídia dizia que tinha que estar ou como meus colegas da escola e igreja achavam que tinha que estar. Eu poderia citar inúmeros casos de como a sociedade trata o nosso cabelo, mas quero trazer 3 exemplos: O primeiro que nunca pude dançar na coreografia da igreja, porque todas as meninas que dançavam tinham cabelos longos e soltos, por mais que elas nunca tivessem dito isso em palavras, eu sei que eu fugia do padrão. Uma outra vez cheguei de viagem e estava de escova, no decorrer da semana lavei o cabelo e deixei ele “natural” uma senhorinha me chamou ao final do culto perguntando se eu gostaria da chapinha emprestada, pois estava precisando. E para não dizer que só sofri isso na igreja, lembro uma vez na academia que ao final de uma aula, uma das alunas encostou em mim e perguntou porque eu não colocava “mega hair” no meu cabelo, pois ficaria melhor...difícil né? Mas vida que segue a gente se acostuma com o racismo e preconceito das pessoas, achando que isso é normal.

 A primeira vez que passei química nos cabelos eu deveria ter uns 14 anos, de lá pra cá eu tentei de tudo, meu cabelo parou de crescer, quebrou várias vezes, troquei diversas vezes de salão e economizava ao máximo para fazer o tratamento adequado, mas não adiantava, ele nunca estava bom, nunca estava do meu agrado e a pergunta sempre ecoava na minha cabeça: Ana, que cabelo é esse? Aos 20 anos estudando em uma universidade pública e ouvindo mais um pouco sobre a militância negra e o racismo algo dentro de mim começou a mudar, mas ainda era o começo. Quando me casei com 23 anos, realizei meu sonho agora eu trabalhava e podia arcar. Coloquei o tal Mega hair e casei com o cabelo liso, domado, e grande. Do jeito que as pessoas gostavam e do jeito que eu aprendi que era belo. Porém não adiantou porque eu continuei ouvindo a pergunta da sociedade: Que cabelo é esse? É seu? Onde colocou? Como comprou?

Mas Deus é bom e ao casar, ganhei mais uma pessoa que começou a reafirmar aquilo que meus pais sempre falaram, meu marido sempre dizia: Você é linda, e seu cabelo é lindo do jeito que é, você não precisa usar esse cabelo. E na troca do “mega hair”, 1 ano depois de casada mais uma vez o cabelo caiu, foi o fim, será que deveria me “assumir” de vez ou coloco o cabelo novamente? A dúvida ecoava dentro de mim. A essa altura o salão Beleza Natural (que tratava de cabelos crespos e cacheados) já estava ganhando fama, e aí eu vi uma possibilidade de ter novamente o meu cabelo “natural”.  Com o grande auxilio do meu marido, família e aí já entram algumas amigas que já tinham se “assumido”, eu consegui ir ao salão, tirar o “mega hair” e cortar todinho, no meu tempo falava que cortei igual a “joãozinho” agora já tem um nome em inglês pra isso: fiz o Big chop.

Mas como eu disse a mudança vem de dentro pra fora e é um processo, fiz o corte porém passei química novamente, dessa vez com a esperança que ele voltaria ao Natural e eu teria o crescimento e os cachos dele de volta. E lá se foram mais 5 anos, alisa, corta, cresce, abaixa, aumenta, com cachos, sem cachos, troca de salão, mantém o salão... até que depois dessa saga, eu engravido e aí vem o novo desespero e a pergunta ecoa: Como vou ficar com esse cabelo? 9 meses sem química. Por mais que aparecessem os “bonitos” tentando me dizer que com determinado tempo de gestão eu poderia colocar a química, eu já tinha determinado que não e aí veio a opção da infância, vamos colocar tranças. Agora vocês observem algo: eu tinha natural, cortei porque resolvi acreditar que era feio, e agora estava pagando para colocar novamente. E lá estava eu de tranças, cabelo arrumado, preso, e para baixo. Você deve tá pensando que após a gestação eu resolvi deixar a química de vez e assumir o cabelo? Não. Mesmo após 1 anos sem química, resolvi passar novamente um outra, com a mesma promessa, de ter um cabelo natural de volta, crescimento e cachos... Tudo por água abaixo. Da terceira vez que passei essa nova química meu cabelo começou a quebrar novamente e caiu. Mas dessa vez foi diferente de todos esses anos pra cá eu já tinha aprendido muito, eu não era mais a mesma, eu não aceitava mais as piadas, eu não me sentia mais inferior, eu poderia dançar, ir pra academia, fazer o que eu quisesse que a pergunta: Que cabelo é esse? Não me incomodava mais. 

Antes mesmo de engravidar em agosto de 2014 criei um grupo no WhatsApp: Cabelos Naturais, que cresceu e tomou uma proporção que foi além de mensagens, as experiências das meninas, me fortalecia. Até que no mês de setembro assisti um filme chamado: Felicidade por um fio. Pronto. Foi a gota dágua que eu precisava para me livrar de vez desse cabelo de química que me acompanhava há 18 anos. Sim quase 20 anos depois eu consegui realizar outro big chop mas depois desse corte não teve química, apenas o creme, um secador, um sorriso no rosto e a língua preparada para responder a pergunta: Que cabelo é esse? E sabe o que eu descobri? Que meu cabelo é lindo e tem cachinhos naturais.

Hoje um dos desejos que eu tenho é que as meninas não esperem 20 anos depois para descobrir que elas são lindas do jeito que elas são, muito menos casar para ser incentivadas pelos maridos a serem elas mesmo, e que a gente não precisa mais se envergonhar, que não precisamos mais nos privar, do que nosso natural.

Toda essa história para ressaltar que nós podemos usar mega hair, podemos alisar o cabelo, podemos colocar trancinhas, podemos fazer o que quiser, e é uma escolha e não há nada de errado nisso, mas precisamos saber que o nosso cabelo natural de verdade é bonito. Deus fez ele pra ser assim, para crescer pra cima, com cachos, as vezes definidos as vezes não e daí? Por que ele tem que ser domado e colocado para baixo?

 “E viu Deus que tudo o que fez era muito bom.” Gênesis 1:31

Nosso cabelo é bom. Ruim é seu preconceito. Bonito é ser você.  Seja você, Liberte-se.

“E nunca deixe que a opinião de outra pessoa virar sua realidade.”

E sobre o livro: Que cabelo é esse, Bela? Da autora Simone Mota, ainda não li mas já quero parabenizá-la pela iniciativa e dizer que como é maravilhoso sentir-se representada. Obrigada!

Ubuntu

Ana Costa

9 de out. de 2018

8 anos de casados e mais alguns muitos de amizade

A qualidade da foto em si não está muito boa, e será que isso realmente importa? Em tempos de mídias sociais, aparatos tecnológicos, smartphones de última geração e afins, tudo isso para se apresentar a "melhor" imagem possível para o outro. Com isso não pensamos muito ou não levamos muito em conta o que acontece por trás disso tudo.
Não quero estar bem na foto, apenas rs, quero estar bem e contente em nosso relacionamento diário. Lutando e perseguindo nossos alvos e objetivos, cumprindo juntos a missão que Deus tem nos direcionado, cuidando de nós, de nosso filho. E não ser mais uns na multidão vivendo uma vida fake. A vida é real e ela cobra de nós realidade.

Temos levado essa vida real e não fake. Sendo quem somos um para com o outro. Agradeço sempre a Deus por ter você do meu lado, literalmente ao lado, assim que Deus nos ordenou. Minha companheira, ajudadora, auxiliadora, minha metade, amiga para todas as horas. Até para as piores horas quando não estou bem, você está lá para me ajudar na caminhada.

 Hoje completamos mais um ano de casados. 8 anos de casados e mais alguns muitos de amizade. Muito obrigado por sempre estar comigo. Muito obrigado pela família que temos hoje. Com certeza você foi enviada por Deus para viver comigo pra sempre. 

Que esse mesmo Deus que separou você para mim e que nos uniu com um propósito, nos conceda ainda muitos anos de vida juntinhos. Que no tempo certo possamos realizar nossos sonhos de de viver em família na África, dedicando a nossa vida inteiramente a Ele e em direção aqueles que precisam ser alcançados por Seu amor e graça, pelo tempo que Ele nos permitir. 

Que esse amor, carinho, união, amizade, sinceridade, atenção, cuidado só aumente em nossas vidas...

Obrigado aos amigos e familiares que estão nessa caminhada conosco!

"Por onde for quero ser seu par..."

Te amo! <3 <3 <3

Eli Costa