28 de mai. de 2015

Felizes são os puros de coração

Durante um período de minha vida em que lutava contra a tentação sexual, encontrei um artigo que me levou a um livrinho, What I believe [Em que creio], de um escritor católico francês, François Mauriac. Surpre­endeu-me que Mauriac, homem idoso, dedicasse considerável espaço para discutir seu próprio desejo da carne. Ele explicava: “A idade avançada arrisca-se a ser um período de redobrada tentação, porque a imaginação de um homem velho substitui de maneira horrível o que a natureza lhe recusa”.
Eu sabia que Mauriac entendia de desejo da carne. Viper’s tangle [A teia da víbora] e A kiss for the leper [Um beijo no leproso], romances que o ajudaram a ganhar o prêmio Nobel de literatura, descrevem o desejo da carne, a repressão e a angústia sexual tão bem como nada mais que tenha lido. Para Mauriac, a tentação sexual era um campo de batalha conhecido.

Mauriac descartou a maior parte dos argumentos a favor da pureza sexual que aprendeu em sua educação católica. “O casamento vai curar o desejo da carne”: não no caso de Mauriac, como para muitos outros, porque o desejo da carne implica a atração de criaturas desconhecidas e o gosto da aventura e dos encontros fortuitos. “Com a autodisciplina, consegue-se dominar o desejo da carne”: Mauriac descobriu que o desejo sexual é como uma maré enchente bastante poderosa para acabar com todas as melhores intenções. “A verdadeira satisfação só pode ser encontrada na monogamia”: isso pode ser verdade, mas certamente não parece verdade para alguém que não encontra alívio da absoluta necessi­dade sexual mesmo na monogamia. Assim, ele avaliou os argumentos tradicionais a favor da pureza e descobriu que são incompletos.

Mauriac concluiu que a autodisciplina, a repressão e os argumentos racionais são armas inadequadas para lutar contra o impulso da impureza. No fim, ele encontraria apenas um motivo para ser puro, e é o que Jesus apresentou nas bem-aventuranças: “Felizes são os puros de coração, pois eles verão a Deus”. Nas palavras de Mauriac: “A impureza nos separa de Deus. A vida espiritual obedece a leis tão verificáveis quanto as do mundo físico [...] A pureza é a condição para um amor mais elevado — para a posse acima de todas as outras posses: a de Deus. Sim, isso é o que está em jogo, e nada menos”.

Ler as palavras de François Mauriac não acabou com minha luta contra o desejo da carne. Mas posso dizer sem sombra de dúvida que achei sua análise verdadeira. O amor que Deus nos estende exige que nossas faculdades sejam limpas e purificadas antes de podermos receber um amor mais elevado, um amor que não pode ser obtido de nenhum outro meio. Esse é o motivo para permanecermos puros. Abrigando o desejo da carne, limito minha própria intimidade com Deus.

Os puros de coração são verdadeiramente bem-aventurados, pois verão a Deus. É assim simples, e difícil. 
Philip Yancey