30 de dez. de 2017

O amor se tornou anormal

Nesses últimos anos temos tido a oportunidade, você também teve é claro, de trabalhar diretamente ou indiretamente em centenas de projetos e trabalhos voluntários onde o seu fim é o amor, o amor ao próximo, o amor àquele que está bem do seu lado. Só que muitos tem nos elogiado, no bom sentido, pelo que nós estamos fazendo, sendo que esse amor, ação, atitude deveria ser normal, mas se tornou anormal. A isso chamamos de Missio Dei|Missão de Deus.

O amor por nós, o amor de Pai, o amor além das circunstâncias sempre existiu, mesmo até antes de nós nascermos. Nas escrituras sagradas encontramos que um cordeiro foi morto por nós todos, foi morto por amor a nós, para que hoje pudéssemos ter salvação e vida eterna. É desse amor que estamos falando.

Um amor que abre mão de sua vontade, abre mão do que eu quero, abre mão do meu tempo, do meu carro, do meu iPhone, das minhas férias, das minhas manhãs, das minhas madrugadas, das minhas atividades profissionais, das minhas roupas etc. Abrir mão do meu/eu pelo nosso. Abrir mão da minha vontade egoísta e gananciosa ao extremo pelo que é melhor pra todos nós. Isso é amor, não discurso vazio ou o que pregam por aí em templos religiosos. Cansamos de tanta teoria, tantas lições, tantos sermões, pregações, congressos, conferências, cultos, orações no monte etc e partimos pra esse amor-ação em direção aos que estão precisando de tudo, literalmente falando. Olhe ao seu redor e veja quais são as reais necessidades daqueles que estão a sua volta, bem perto de você. Não precisa de ir pra longe se você não vai pra perto.

Foi isso que o Cordeiro/Jesus fez. Abriu mão do céu para estar entre nós na terra. Se humilhou, se rebaixou, desceu do pedestal, desceu da sua glória, saiu do seu conforto, do seu sofá, da poltrona do papai, da cama King, do ar condicionado 16°C turbo, largou o Netflix, largou a sua série favorita (aliás saiu a temporada 4 de Black Mirror, você viu? Nem eu rs mas quero ver muito). Ele largou isso tudo por nós, se entregou por nós, por amor, sempre foi por amor.

Um amor que era normal. Até mesmo na narrativa da criação vejo amor. Cada dia e fase da criação, cada passo, cada próton, elétron, cada lei da física, cada processo químico da natureza, movimento dos planetas e a obra da criação o homem e a mulher. No homem Ele mesmo soprou do seu ar e nos deu vida, e que vida! Vendo que o homem tava de boa no jardim mas faltava alguma coisa, apenas um pequeno detalhe: uma mulher que seria sua companheira, amiga, ajudadora para então o completar.

Ele tanto amou que não nos criou robôs mas sim seres pensantes, dotados de inteligência e aptos para tirarmos nossas próprias conclusões e tomar decisões. Ele apenas nos instrui e mostrou o que era certo de se fazer e o que também nos afastaria dele. Nisso tudo vejo amor. Mas mesmo assim na continuidade dessa narrativa, vemos que por nossas decisões erradas geraram questões que estamos pagando até hoje.

Essa vida que levamos hoje parte do entendimento, reconhecimento e humildade desse amor que chegou até nós e que não podemos deixar de demonstrar e viver. Uma bênção só é bênção de verdade se abençoar aqueles que estão a minha volta.

Que esse AMOR volte a ser normal, o amor simples, o amor do dia a dia. O amor que conhece dentro da minha casa e invade a rua. Faça isso acontecer. Jesus já fez a parte dele e você o que vai fazer nessa história toda? Pare de apenas apreciar a paisagem e faça parte dela agora mesmo. Vem com a gente?

Eli

26 de dez. de 2017

Um Natal pra lá de estranho|diferente

Todo ano costuma-se fazer a mesma coisa, do mesmo jeito, na mesma hora, com as mesmas pessoas ou nos mesmos lugares de sempre. Mas esse nosso Natal foi diferente, devo confessar.

Não, meu Natal não foi em um templo religioso assistindo aquela cantata. Não condeno, já participei de muitas, até atacava de solista, não sei onde aquele pessoal estava com a cabeça rs. Não, meu Natal não foi nos EUA, na neve, no frio, com as renas, com o trenó, com o bom velhinho que só vem pra algumas crianças, em Manhattan, Nova York, Canadá e nem lá no exterior, como estou vendo geral daqui partindo, também não sei como, me expliquem por favor que matemática é essa. Também não os condeno, já passamos alguns natais por lá e realmente é legalzinho, tranquilo.

Ano passado tinha ouvido falar desse Natal na praça Veríssimo de Melo aqui em Macaé, mas não dei muita ideia. Agora esse ano começamos a nos envolver mais com um café da manhã para os moradores em situação de rua, que acontece todos os dias às 7h30 nessa mesma praça com Jorge e Elis. Desse café soubemos de uma ceia que aconteceria na noite de Natal. Logo pensei comigo: não posso ficar de fora dessa. Tudo isso funciona apenas com doações de amigos e algumas igrejas.

Analisando a vida de Jesus pelos relatos dos evangelhos e pela minha própria leitura nesses últimos anos, vê-se um camarada que só vivia na rua andando e se relacionando com gente que "não prestava", os tais rejeitados e excluídos da sociedade (que no caso somos nós que excluímos e rejeitamos): leprosos, doentes, cegos, surdos, deficientes, ladrões, cobradores, pescadores, prostitutas, marginais, bêbados, viciados etc. Só gente boa mesmo. E a esses ele levava o amor, a cura, o alimento, sonhos, um novo olhar, visão, novas oportunidades e chances, perdão, reconciliação, graça etc. Poucas vezes ele estava nas sinagogas e sentado. Ele gostava seu tempo na rua e com gente. Ele se preocupava com gente, com pessoas, com vidas.

Comecei a chamar o povo pra essa ceia e pedir algumas doações também. Convidei primeiro os religiosos (pensei que ia dar certo) e logo torceram a cara e não gostaram da ideia: - Como assim? Ceia na praça? Com quem? "Moradores de rua?" Ninguém merece. Eu, vou nada.

Me pergunto então que evangelho é esse que vivemos. Se nosso olhar e nem nossas ações não são de amor muito menos de misericórdia pelo nosso próximo que passamos todos os dias na rua e nada, apenas aperto o passo, viro a cara, fecho a janela e continuo o meu caminho, tenho mais o que fazer do que perder tempo com "esses caras"... Boto a culpa no governo, nos políticos, nas instituições etc e não faço nada pra mudar essa realidade cruel em que vivemos, é mais fácil transferir a culpa pro outro sempre.

Esse ano falamos pra nós mesmos, saia da "zona de conforto", nome bonito para preguiça e vamos partir em direção a essa galera que tanto precisa de ajuda em todos os sentidos da palavra.

Creio que na vida recebemos oportunidades de fazer e tomar algumas atitudes. Atitudes essa que vão mudar a nossa vida pra sempre. Nunca mais seremos os mesmos. Ao ver cada olho brilhando, cada sorriso, cada rosto feliz. Pela comida, pelo abraço, pelo carinho que em algum momentos seus familiares não deram. A maioria dos casos desses que vivem na rua é por problemas e desentendimentos entre os próprios familiares. Com isso saem de casa e vão "morar" na rua. E na rua a droga é muito fácil, o caminho da destruição do ser humano é o que sempre acontece. Querem nos transformar no pior que podemos ser. Querem nos matar aos poucos e nos mandar direto pro inferno.

O que fazemos no café e fizemos na ceia é apenas parar e conversar com eles. Tentar ouvir e entender cada situação e encontar uma saída e uma solução para cada um.

É evidente que não vamos resolver todos os problemas do mundo mas estamos fazendo a nossa parte. E já podemos ver dezenas de pessoas que já abandonam a rua e hoje já saíram das drogas, largaram a bebida, tem sua kitnet e seu próprio trabalho, isso é abençoador e gratificante. Imagina agora se cada um fizesse a sua parte...

''Enquanto alguns insistem em fazer o mal, nós vamos fazendo o bem!''

É Deus na direção!

Ano que vem tem mais, vem com a gente?

Eli