- A
mulher foi assediada.
- Também
com aquela roupa, o que ela querida?
-
Uma moça foi estuprada.
- Também
andando sozinha a noite o que ela queria?
Essas frases são comuns
de ouvirmos infelizmente, a primeira então é a que mais ouço, como se a roupa
de alguém fosse responsável pelo caráter da outra pessoa. Ao escrever esse
texto me lembro que esses dias nas redes sociais vi uma polêmica que houve no
Brasil de uma jovem que foi assediada em um carro de aplicativo, e quando a
menina denunciou o motorista, ele alegou que fez isso por causa do short dela,
e o pior, milhões de pessoas concordaram.
Infelizmente isso não é uma situação que acontece somente no meu país de
origem, todas os países que tratam a mulher como coisa, que o machismo impera e
que o homem acha que o corpo da mulher é propriedade dele isso acontece, e aqui
em Moçambique não é diferente.
Antes
de contar o que aconteceu comigo quero explicar como as mulheres aqui no Norte
de Moçambique se vestem. Aqui tem um tecido chamado capulanas, que as mulheres
sempre estão com ele sobre o corpo, normalmente usa como uma saia longa,
coloca-se nos ombros e na cabeça. 80% das mulheres aqui sempre estão com o
joelho coberto, e os ombros, estou há 6 meses aqui e nunca vi uma mulher passar
por aqui de short curto. Eu sigo esse mesmo padrão, sempre ando com saias que
tampe os joelhos e com blusas que cubram os ombros e quando vou a um ambiente
religioso cubro a cabeça também. Se vou caminhar, uso calça legging por baixo
de uma blusa bem grande.
Mas
nada disso me impediu de vivenciar um assédio aqui. Um dia a tarde fui ao mercado
central da cidade com mais duas amigas jovens moçambicanas, estávamos vestidas
como mencionei acima, ninguém estava “indecente” e nem “mostrando” nada. Mesmo
assim ao andarmos erámos tão assediadas que não pudemos continuar a comprar, em
um dos momentos um homem segurou no meu braço e eu puxei com muita força e saí
correndo. Isso me fez lembrar dessas frases horrorosas que lemos acima. O que
eu fiz? O que minha roupa mostrava? Nada.
O assédio nas ruas acontece através das conhecidas cantadas.
As meninas não ligaram tanto, mas eu me senti intimidada e com medo. Esse tipo
de assédio pressupõe que o corpo da mulher é público, o que está completamente
errado.
Isso forma a cultura do estupro,
nada mais é do que aquela ideia de que a mulher é sempre a culpada pelo
assédio, seja pelas roupas que veste, pelo lugar que
frequenta, pelas atitudes que toma. Essa
ideia machista, que, geralmente, é passada de pai para filho, está enraizada em
nossa cabeça.
É importante que mudemos a nossa mente e que tenhamos uma
mente de Cristo, que nunca culpabilizaria uma mulher por ter sido assediada ou
estuprada. Esse pequeno relato é para falar o obvio que a roupa de nenhuma
mulher tem culpa de nada. Por que se fosse assim as mulheres moçambicanas não
seriam estupradas e nem o Oriente Médio que 99% das mulheres usam Burca seria
um dos lugares recordes de estupros feminino.
É preciso ter um novo olhar sobre a pessoa que é assediada ou
violada e culpar quem realmente tem a culpa, o agressor.
Se você é uma dessas pessoas que já falou ou pensou essas
frases, mude essa mente e não se preocupe em ensinar as mulheres a se vestirem,
mas sim a homens entenderem que o corpo da mulher pertence somente a ela, e
como uma pessoa ela deve ser respeitada, honrada e protegida e pode exercer seu
direito de ir e vier, andar no mercado sem se preocupar e voltar a noite pra
casa em segurança.
Pense nisso, compartilhe e mude sua mente.
Ana Costa
Moçambique
Concordo plenamente com você. A "roupa de uma pessoa jamais vai determinar o caráter da outra". Que o Senhor proteja vocês. Que o Senhor abençoe as mulheres.
ResponderExcluirAmém, estamos juntas nessa! Obrigada.
ExcluirVerdade! Que possamos ser protegida por esses mundo mau!
ResponderExcluirAmém mãe, obrigada!
ExcluirVerdade! Eu tbm concordo com seu comentário irmã." As roupas de uma pessoa jamais vai determina o caráter da outra" são comportamentos inaceitáveis destas pessoas que se justificam com essas posições...
ResponderExcluirEstamos juntas então. Obrigada!
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