“Falar de racismo, opressão de gênero
etc. é visto geralmente como algo chato, “mimimi” ou outras formas de
deslegitimação. A tomada de consciência sobre o que significa desestabilizar a
norma hegemônica é vista como inapropriada ou agressiva, porque aí se está
confrontando o poder. ” Djamila Ribeiro
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Começo nossa reflexão sobre a
Consciência Negra no Brasil com esse trecho da filosofa negra Djamila Ribeiro
porque ela sintetizou bem o que venho sentindo nos últimos anos.
Como é difícil introduzir uma fala sobre o
racismo com nossos amigos, no trabalho e piorou no meio eclesiástico. Sim a
igreja que deveria ser a instituição que mais deveria lutar contra as formas de
opressão, infelizmente tenta nos silenciar com argumentos da própria
experiência religiosa.
Mas essa ideia de nos calar vem
justamente porque quando falamos estamos confrontando o poder. Esse poder que
já é estabelecido, o privilégio que existe e ninguém quer repensar o seu lugar.
Quando a pessoa negra rompe o
silêncio que foi imposta a mesma durante séculos, causa um desconforto e faz
com que o outro que esteja ouvindo tenham conflitos necessários para a mudança.
Após ler o livro “Lugar de Fala”
de Djamila o qual ela elucida o que de fato significa o termo, e enfatiza que
todos nós temos lugar de fala e por isso a importância que todos independente de
quem sejamos, falemos sobre racismo e possamos juntos combater esse mal, eu
percebi a necessidade mais atenuante de falarmos sobre isso em nosso meio eclesiástico.
Quando vejo uma pessoa sobretudo
cristã, dizer que não precisamos falar sobre isso, me causa uma indignação
principalmente pela ausência da pessoa em ter empatia pela dor do outro. Uma
pessoa que diz seguir a Cristo e não consegue se indignar pela opressão que o
outro está vivendo, eu de fato, não sei a qual Jesus ela segue.
Mas isso não é novo, se você ler
a narrativa bíblica de Atos 10:1–48; 11:1–18 O apostolo Pedro não queria pregar
o evangelho aos gentios, outras pessoas que não fossem judeus. Precisou Deus
aparecer ao mesmo em visão, para que ele entendesse isso. E logo depois o
próprio Apóstolo Paulo disse nesse mesmo sentido que “Não há judeu nem grego;
não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em
Cristo Jesus. ” (Gálatas 3:28)
Então, nós devemos nos
conscientizar do lugar que estamos, quem somos, entender o contexto histórico
do nosso país, nos revestirmos do amor de Jesus e juntos combatermos esse mal
que tanto aflige o nosso país. Precisamos nos perguntar: Porque a cada 23
minutos um jovem negro morre em nosso país? Porque essa parcela da população é
a que mais sofre com desemprego, fome, falta de acesso a saúde, educação e
lazer? O que 386 anos de escravidão do povo negro trouxe de consequência para
nós? Porque quando vemos um homem negro de bermuda correndo na rua, eu penso
que ele é um ladrão ao invés de imaginar que ele está apenas fazendo “cooper”?
Jesus veio para que tivéssemos vida
e vida em abundância, abundância significa alegria, paz, amor, conforto, se
existe algum de nós que não está vivendo essa vida precisamos mostrar e isso só
é possível quando juntos rompemos o silêncio e mesmo que nos cause o
desconforto a gente resolva mudar.
É preciso pensar em ações que nos ajude a
melhorar essa realidade, nós como cristãos devemos ser os principais agentes de
transformação.
Todo cristão deveria ser:
Antirracista, pois a nossa fé e o nosso Jesus Cristo não compactua com nenhum
tipo de discriminação. Quando eu leio também o relato de João 4 e a mulher
samaritana.... Uau em um momento só Jesus rompeu a xenofobia, porque judeu
achava os samaritanos inferiores, Jesus venceu a misoginia, porque homem não
podia falar com mulher, e nem dar voz as mulheres e ele ainda rompeu com a
desigualdade social.
Então querido você que conseguiu
ler até agora e ainda acha que não é racista porque você tem um amigo negro, e
acha que racismo não existe porque seu amigo nunca sofreu, repense suas
práticas, olhe para dentro de você, ou melhor olhe para fora de sua vida, ande
pelas cidades, como fez Jesus, converse com várias pessoas negras, ouça sobre
suas realidades, saia do seu gueto religioso e você verá que temos muito ainda
a trabalhar.
Ana Costa
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