Então, eu gostaria de compartilhar o que vivenciei hoje. Pela manhã fiquei
sabendo que teria o lançamento de um livro chamado: Que cabelo é esse, Bela?
Fiquei enlouquecida! Aqui, em Macaé um evento desse com o livro que deve contar
a minha história rs... com certeza tenho que ver de perto. Fomos então ao
lançamento, conhecemos a autora Simone Mota, conversamos um pouco sobre a
temática e fiz questão de comprar o livro, afinal ouvi a vida toda essa
pergunta: Que cabelo é esse, Ana?
Ok, vamos pegar mais leve, eu nem sempre ouvia essa frase porque
meu cabelo sempre estava muito bem trançado e penteado, sempre arrumado e nunca
bagunçado. Na passagem da infância para adolescência nos mudamos de Salvador
Bahia para Macaé Rio de Janeiro e aí a crise aumentou, não queria ir para
escola com aquelas trancinhas, que minha mãe fazia com muito amor, eu ouvia de
tudo: Filha de bob Marley, medusa, rastafári, imagina, que menina de 12 anos queria
conviver com esse bullying? (e ainda tem candidato à presidência que diz que
isso é palhaçada) mas não vamos falar sobre isso..rs
Mesmo com os pais maravilhosos que tenho que faziam de tudo
para inculcar na minha cabeça que eu era linda e minhas trancinhas mais ainda,
não adiantou. A pressão da escola, mídia
e igreja era muito mais forte, e assim depois de muita insistência, minha mãe
conseguiu um dinheirinho e alisou meu cabelo, agora sim eu podia ser aceita e
ter o cabelo pra baixo, domado, exatamente como deveria ser, afinal quem achava
cabelo “pra cima” bonito?
Mas o tempo passou e mesmo que eu não ouvisse que Cabelo é
esse? Eu via nos olhares das pessoas fazendo essa pergunta, porque mesmo ele
pra baixo, arrumado e domado ele nunca estava com as pessoas achavam que
deveria estar, como a mídia dizia que tinha que estar ou como meus colegas da
escola e igreja achavam que tinha que estar. Eu poderia citar inúmeros casos de
como a sociedade trata o nosso cabelo, mas quero trazer 3 exemplos: O primeiro
que nunca pude dançar na coreografia da igreja, porque todas as meninas que
dançavam tinham cabelos longos e soltos, por mais que elas nunca tivessem dito
isso em palavras, eu sei que eu fugia do padrão. Uma outra vez cheguei de
viagem e estava de escova, no decorrer da semana lavei o cabelo e deixei ele
“natural” uma senhorinha me chamou ao final do culto perguntando se eu gostaria
da chapinha emprestada, pois estava precisando. E para não dizer que só sofri
isso na igreja, lembro uma vez na academia que ao final de uma aula, uma das
alunas encostou em mim e perguntou porque eu não colocava “mega hair” no meu
cabelo, pois ficaria melhor...difícil né? Mas vida que segue a gente se
acostuma com o racismo e preconceito das pessoas, achando que isso é normal.
A primeira vez que
passei química nos cabelos eu deveria ter uns 14 anos, de lá pra cá eu tentei
de tudo, meu cabelo parou de crescer, quebrou várias vezes, troquei diversas
vezes de salão e economizava ao máximo para fazer o tratamento adequado, mas
não adiantava, ele nunca estava bom, nunca estava do meu agrado e a pergunta sempre
ecoava na minha cabeça: Ana, que cabelo é esse? Aos 20 anos estudando em uma
universidade pública e ouvindo mais um pouco sobre a militância negra e o racismo
algo dentro de mim começou a mudar, mas ainda era o começo. Quando me casei com
23 anos, realizei meu sonho agora eu trabalhava e podia arcar. Coloquei o tal
Mega hair e casei com o cabelo liso, domado, e grande. Do jeito que as pessoas
gostavam e do jeito que eu aprendi que era belo. Porém não adiantou porque eu
continuei ouvindo a pergunta da sociedade: Que cabelo é esse? É seu? Onde
colocou? Como comprou?
Mas Deus é bom e ao casar, ganhei mais uma pessoa que começou
a reafirmar aquilo que meus pais sempre falaram, meu marido sempre dizia: Você
é linda, e seu cabelo é lindo do jeito que é, você não precisa usar esse cabelo.
E na troca do “mega hair”, 1 ano depois de casada mais uma vez o cabelo caiu,
foi o fim, será que deveria me “assumir” de vez ou coloco o cabelo novamente? A
dúvida ecoava dentro de mim. A essa altura o salão Beleza Natural (que tratava
de cabelos crespos e cacheados) já estava ganhando fama, e aí eu vi uma
possibilidade de ter novamente o meu cabelo “natural”. Com o grande auxilio do meu marido, família e
aí já entram algumas amigas que já tinham se “assumido”, eu consegui ir ao
salão, tirar o “mega hair” e cortar todinho, no meu tempo falava que cortei
igual a “joãozinho” agora já tem um nome em inglês pra isso: fiz o Big chop.
Mas como eu disse a mudança vem de dentro pra fora e é um
processo, fiz o corte porém passei química novamente, dessa vez com a esperança
que ele voltaria ao Natural e eu teria o crescimento e os cachos dele de volta.
E lá se foram mais 5 anos, alisa, corta, cresce, abaixa, aumenta, com cachos,
sem cachos, troca de salão, mantém o salão... até que depois dessa saga, eu
engravido e aí vem o novo desespero e a pergunta ecoa: Como vou ficar com esse
cabelo? 9 meses sem química. Por mais que aparecessem os “bonitos” tentando me
dizer que com determinado tempo de gestão eu poderia colocar a química, eu já
tinha determinado que não e aí veio a opção da infância, vamos colocar tranças.
Agora vocês observem algo: eu tinha natural, cortei porque resolvi acreditar
que era feio, e agora estava pagando para colocar novamente. E lá estava eu de
tranças, cabelo arrumado, preso, e para baixo. Você deve tá pensando que após a
gestação eu resolvi deixar a química de vez e assumir o cabelo? Não. Mesmo após
1 anos sem química, resolvi passar novamente um outra, com a mesma promessa, de
ter um cabelo natural de volta, crescimento e cachos... Tudo por água abaixo. Da
terceira vez que passei essa nova química meu cabelo começou a quebrar
novamente e caiu. Mas dessa vez foi diferente de todos esses anos pra cá eu já
tinha aprendido muito, eu não era mais a mesma, eu não aceitava mais as piadas,
eu não me sentia mais inferior, eu poderia dançar, ir pra academia, fazer o que
eu quisesse que a pergunta: Que cabelo é esse? Não me incomodava mais.
Antes
mesmo de engravidar em agosto de 2014 criei um grupo no WhatsApp: Cabelos
Naturais, que cresceu e tomou uma proporção que foi além de mensagens, as
experiências das meninas, me fortalecia. Até que no mês de setembro assisti um
filme chamado: Felicidade por um fio. Pronto. Foi a gota dágua que eu precisava
para me livrar de vez desse cabelo de química que me acompanhava há 18 anos.
Sim quase 20 anos depois eu consegui realizar outro big chop mas depois desse
corte não teve química, apenas o creme, um secador, um sorriso no rosto e a
língua preparada para responder a pergunta: Que cabelo é esse? E sabe o que eu
descobri? Que meu cabelo é lindo e tem cachinhos naturais.
Hoje um dos desejos que eu tenho é que as meninas não esperem
20 anos depois para descobrir que elas são lindas do jeito que elas são, muito
menos casar para ser incentivadas pelos maridos a serem elas mesmo, e que a
gente não precisa mais se envergonhar, que não precisamos mais nos privar, do
que nosso natural.
Toda essa história para ressaltar que nós podemos usar mega
hair, podemos alisar o cabelo, podemos colocar trancinhas, podemos fazer o que
quiser, e é uma escolha e não há nada de errado nisso, mas precisamos saber que
o nosso cabelo natural de verdade é bonito. Deus fez ele pra ser assim, para
crescer pra cima, com cachos, as vezes definidos as vezes não e daí? Por que
ele tem que ser domado e colocado para baixo?
“E viu Deus que tudo o
que fez era muito bom.” Gênesis 1:31
Nosso cabelo é bom. Ruim é seu preconceito. Bonito é ser
você. Seja você, Liberte-se.
“E nunca deixe que a opinião de outra pessoa virar sua
realidade.”
E sobre o livro: Que cabelo é esse, Bela? Da autora Simone
Mota, ainda não li mas já quero parabenizá-la pela iniciativa e dizer que como
é maravilhoso sentir-se representada. Obrigada!
Ubuntu
Ana Costa
Você é um exemplo vivo de aceitação e sempre foi linda, sempre lhe disse isso rsrsr mas sabe como é que é opinião de papis babão não vale. Agora você tem a certeza de que estávamos certos seja bem vinda a com toda a sua singularidade. Aceite-se e aceitem-se.
ResponderExcluirMaravilhoso amiga! é isso não vamos nos conformar com um padrão que inventaram, vamos ser nós mesmas.
ResponderExcluirNossa que lindo amiga
ResponderExcluirTemos que nos aceita do jeito que somos
Você é uma inspiração e um exemplo para mim
Vamos continuar firmes nessa luta!
Perfeitooooo! Deus não erra
ResponderExcluirQue lindooooo! Que essa nova caminhada seja de conhecimento e descobertas para vcs dois :)
ResponderExcluirUau que texto mais encorajador! Muito mais do que ter um cabelo crespo, cacheado, liso precisamos ter um coração limpo e puro, e é o que Deus faz na nossa vida. O processo de aceitação não é fácil, mas quando entendemos realmente o nosso propósito e o que verdadeiramente importa isso nos transforma de uma forma, que assim como no seu caso muitas outras mulheres foram impactadas!! Que Deus continue te abençoando muito e que você seja sempre esse exemplo de mulher batalhadora e que faz a diferença!!
ResponderExcluirE eu amo seu cabelo.